Fintech Rebel capta R$ 167 milhões com debêntures para 2024
Por Naiara Bertão para o Valor
Com o juro na mínima história e a busca do investidor por alternativas que pagam retornos melhores, mais um fintech conseguiu levantar recursos no mercado de debêntures. A Rebel, fundada em 2017 com foco no segmento de crédito pessoal, captou R$ 167 milhões junto a investidores institucionais, entre eles a gestora americana Franklin Templeton e a XP Asset Management.
O Brasil tem mais de 90 startups que usam tecnologia para conceder crédito a pessoas físicas e jurídicas, segundo o Radar Fintech Lab. O total concedido por essas fintechs já supera R$ 1 bilhão. Só no ano passado, o volume cresceu 300%, segundo a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD).
Para acelerar a expansão dos empréstimos, o mercado de debêntures tem se tornado fonte importante de recursos para essas empresas. “Existe apetite no mercado por bons ativos de crédito. O volume que captamos em tão pouco tempo demonstra confiança dos investidores na Rebel e na qualidade dos ativos que está originando”, afirma Rafael Pereira, um dos sócios-fundadores da Rebel.
Essa é segunda emissão de debêntures da Rebel. Além de ter multiplicado por dez o volume captado, o aquecimento do mercado fez baixar o custo de captação. Na primeira operação, a fintech captou R$ 16,6 milhões a uma taxa de CDI mais 6% ao ano. Na oferta recente, com vencimento em fevereiro de 2024, a captação de R$ 167 milhões saiu a CDI mais 5,75%.
A emissão foi feita pela securitizadora Vert Capital, que adquiriu os recebíveis de crédito usados como lastro para as debêntures. O modelo contempla dois tipos de papel, o subordinado (10% do total), que ficou com a Rebel, e o sênior, vendido para os investidores.
“Há um alinhamento estratégico maior entre investidores e tomadores de crédito corporativo. O ajuste da relação risco/retorno está sendo feito de forma mais correta e a taxa de juros combinada, justa para ambos”, acrescenta André Botelho de Bastos, cofundador e diretor financeiro da Rebel.
Neste ano também recorreram ao mercado de debêntures as fintechs Nexoos e Gyra+. A Nexoos, que conecta pessoas físicas a pequenas empresas no modelo “peer-to-peer” (P2P), emitiu R$ 25 milhões em debêntures de quatro anos e retorno de CDI mais 5,5% ao ano, e planeja outra oferta para outubro no valor de R$ 100 milhões.
Nesse caso, para a emissão, foi montada uma securitizadora de créditos financeiros exclusivamente para as captações da fintech, com assessoria da Vert, em figura jurídica separada.
A Gyra+, que oferece capital de giro a pequenos lojistas de marketplaces, fez neste ano sua primeira emissão pública de debêntures. Captou R$ 15 milhões por meio de uma oferta com esforços restritos. A cota do tipo sênior saiu a CDI mais 5% ao ano.
A Rebel atua na concessão de empréstimo pessoal, sem exigência de garantia. Os cheques variam de R$ 1 mil a R$ 25 mil. O valor médio concedido está em R$ 6 mil. A fintech não revela a taxa de inadimplência, mas Pereira afirma que a fatia de tomadores de crédito que deixam de pagar é menor que a média do mercado. Também não informa quanto já emprestou desde que começou a operar, no ano passado, apenas diz que já teve R$ 4 bilhões em pedidos feitos – boa parte não atendido.
Para conceder crédito, a empresa usa tecnologias como “machine learning” e inteligência artificial para avaliar cerca de 2 mil variáveis que vão determinar o risco de crédito de cada cliente e sugerir uma taxa de juro a ser cobrada. Em seu site, a companhia diz que cobra juros a partir de 2,2% ao mês.
“Estamos estudando novas frentes, como crédito para quem quer empreender, mas queremos fazer com calma para lançar o melhor produto. Nosso objetivo é democratizar o crédito e ensinar aos brasileiros que crédito não é necessariamente dívida”, conta Pereira.
A Rebel foi fundada em 2017 por três sócios: André Botelho de Bastos, Rafael Pereira e Daniel Shteyn. Os três haviam trabalhado juntos na Enova International, empresa americana com foco em empréstimos e atuação também no Brasil e no Reino Unido. Já com experiência no assunto, eles perceberam que havia muito espaço para explorar no Brasil, já que o crédito ainda é caro e pouco acessível.
Pereira, que, além da Enova, trabalhou na KPMG, é ainda presidente da ABCD. Bastos, diretor financeiro da Rebel, tem ainda passagens pelo HSBC, Kraft Heinz e o fundo de investimento em startups Valor Capital. O outro sócio, Shteyn, ainda tem participação na empresa, mas se afastou do dia a dia.
Além dos três sócios-fundadores, a Rebel tem fundos de investimento no quadro societário – no ano passado, captou R$ 7 milhões junto a um grupo liderado pelo fundo Monashees. Está nos planos fazer uma nova rodada de investimento ainda este ano para aumentar o time e promover a expansão.
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